Os convidados chegam, se acomodam, e não vão embora desta casa na Antuérpia. Por meses a fio, eles recebem amigos no terraço, ocupam os três andares e transformam por completo a rotina de vida dos proprietários. E, por mais difícil que pareça, sem chateá-los. Os convidados, no caso, são as obras de arte que vivem no interior da Valerie Traan, casarão belga que desde uma reforma feita pelos profissionais do Lens°Ass Architects foi transformado em uma galeria habitada.
O espaço embaralha as fronteiras entre design e arte e propõe novos significados para o ato de morar. A começar pelo seu térreo envidraçado, cujo material translúcido mexe no referencial que há entre interior e exterior. Não só pela vista contínua que os cômodos oferecem do entorno, mas também pela proposta de organização que dispensa a tripartição do imóvel entre social, privado e serviços. A sala de estar, por exemplo, ganha um caráter contemplativo, antes função de jardins e terraços, enquanto as alas ao ar livre têm móveis de gabinete e objetos decorativos.
Os seus mais de 20 ambientes (e, agora, espaços expositivos de artistas e designers da nova geração) também opõem o privado contra o público e invertem os papéis daquilo que se entende por beleza e utilidade. O móvel que preenche o quarto de cor trama uma multifunção com um mix de tapeçaria, sofá e cama; já o gabinete do banheiro fica acima da porta com nichos inatingíveis, como manda a desordem.
Diante da utopia, detalhes preciosos mostram um mundo possível para quem só quer sonhar com uma casa nova. Do quarto à sala, o cinza confere elegância ao conjunto. Perto da lareira, por exemplo, as paredes brincam com a cor ao alternar grafite e branco na pintura; já no último andar, o grafite integra a suíte principal ao closet pelo piso de cimento batido. Para suavizar a sobriedade do revestimento, os armários são pincelados com um amarelo radiante.
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